quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Um Brasil dividido


Domingo. O relógio marcava oito horas da noite. Neste momento, o país voltou suas atenções para qualquer meio de comunicação possível, era hora de saber quem seria o novo Presidente da República.  Dois minutos mais tarde, surgiram os primeiros comentários. “O nordeste elegeu essa mulher”, “Malditos nordestinos, que votam nela para Presidente e depois querem morar em São Paulo”, “Vamos dividir o Brasil assim como é na Coréia, em Norte e Sul”.

O etnocentrismo  esbravejado aos quatro cantos do Facebook foi apenas um reflexo de toda a campanha eleitoral. O engajamento político junto com o ódio – candidatos e militantes – ajudou o desenvolvimento de tais discursos. Discursos esses que nos fazem relembrar os anos 60, nos Estados Unidos, onde milhares de negros foram às ruas brigar por seus direitos civis. Na época, Malcom X, Luther King, Nina Simone também lutavam contra o racismo e segregação da sociedade americana.

Segregação essa que também começa a crescer em nosso nobre povo paulista. Aposto que você, assim como eu, já viu, ouviu algum amigo clamando pela independência de São Paulo, certo?  Certo.  Esses, em grande maioria, nunca atravessaram os limites da ponte para descobrir como o mundo é diferente.  Os separatistas paulistas buscam no estereótipo de povo aguerrido e trabalhador para justificar a divisão. Criticam aqueles que lutam contra o determinismo social, acham errado alguém deixar suas terras em busca de uma nova vida – Mesmo a grande maioria sendo filha ou neta de algum imigrante europeu.

O preconceito que ganhou as eleições fez com que algumas pessoas esquecessem a sua origem brasileira. Fez com que esquecêssemos que toda a briga entre azuis e vermelhos é para o bem comum – coletivo.  Quebrar a bolha social em que vivemos é essencial para esse entendimento.  A busca pelo conhecimento social tende ser maior que um rápido Google, ou sobre aquela imagem da internet. O porquê escolher X ou Y é além de uma sigla, ou cor. Antes de tudo, é necessário entender que eles são nossos irmãos também.

Não podemos também deixar a onda de ódio apenas na conta de militantes e candidatos. A imprensa também tem grande culpa em tudo que se viu e leu em suas redes sociais. Na mesma noite de domingo, quase segunda-feira, o apresentador do “Manhattan Connection”, Diogo Mainardi, do canal Globo News, usou da seguinte frase para comentar a vitória da presidente Dilma.

"O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação ao poder, durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT. É uma região atrasada, pouco educada, pouco construída que tem uma grande dificuldade para se modernizar na linguagem. A imprensa livre só existe da metade do Brasil para baixo. Tudo que representa a modernidade tá do outro lado.”

Afirmações como essa ajudam a aumentar ainda mais o ódio e preconceito. Em São Paulo, o deputado eleito, Coronel Telhada, usou de seu Facebook para incentivar a separação do estado do nordeste. No entanto, Mainardi e Telhada, mostram o desconhecimento sobre o cenário votante brasileiro, visto que, Dilma Rousseff obteve números quase iguais de votos no Norte e no Sul.

Felizmente tal ódio será passageiro. Em breve algo ganhará mais repercussão que dividir o país ou que o povo A é melhor que o B. É preciso acreditar, pois até no lixão nasce flor. 

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